Em setembro, a cidade de Medelim, na Colômbia, foi sede de um projeto que mudou a vida de muitos jovens, e que pode ter consequências capazes de impactar toda a América Latina.
No dia 19 de setembro, vinte e cinco jovens estudantes do Guri embarcaram no aeroporto de Guarulhos para uma viagem histórica. Selecionados entre os 390 alunos dos dez Grupos Infantis e Juvenis do Guri, os 25 representavam o Guri e o Brasil na primeira formação da Orquestra Sinfônica Juvenil da América Latina.
Lá aconteceu uma residência artística que contou ainda com mais 25 jovens da Sinfonía por el Perú, e 50 estudantes da Fundación Batuta – os anfitriões do evento –, além de um núcleo de professores de cada instituição. Do dia 20 em diante seguiu-se uma intensa rotina de 10 horas de ensaios diários – as atividades se iniciavam às 8h30 da manhã, com os alunos divididos por naipes, e, depois do almoço, todos se reuniam sob a batuta do maestro Juan Felipe Molano para o ensaio tutti. E tudo isso num repertório extenso e desafiador.
Espera-se que uma orquestra recém-montada dê seus primeiros passos num repertório simples, conhecido do grande público e pelos músicos. Mas esse não foi o caso. Para celebrar verdadeiramente a conexão entre os países da América Latina – e em especial os países participantes –, foi planejado um programa que incluía os brasileiros Camargo Guarnieri, Edu Lobo e Tom Jobim; os peruanos Daniel Alomía Robles e Chabuca Granda; e os colombianos Lucho Bermúdez, Petronio Álvarez e Victor Hugo Guzmán. Completaram o repertório dois clássicos: a Abertura Festiva de Dmitri Shostakovich, e a famosa suíte do balé Estância, do espanhol-argentino Alberto Ginastera.
Entrosamento
Como forma de valorizar a vivência dos dias da residência artística, o Guri Santa Marcelina elaborou um Diário de Bordo para que cada aluno pudesse anotar suas impressões e experiências da viagem – desde a saída do aeroporto de Guarulhos, no dia 19, até o último dia na Colômbia, no dia 27. São notáveis nas linhas dos diários a apreensão e a disposição dos alunos do Guri.
“Tivemos nosso primeiro contato com o pessoal que vamos conviver durante a residência. Foi estranho por ser novo, mas também incrível. Temos que ser muito responsáveis desde a hora do amanhecer até o dia tardar. Pra mim foi um pouco difícil me adaptar, porque não tenho muito conhecimento de espanhol. No primeiro ensaio vimos o tamanho do desafio”, escreveu Vinícius de Paula Bonfim, sobre o dia 20 de setembro.
Esse desafio era notável inclusive para o pessoal do Guri responsável pela garotada: a produtora Viviane Bressan, o assistente social Marcos Gonzaga, e o coordenador artístico-pedagógico Ricardo Appezzato.
Segundo Appezzato, foi nesse primeiro momento que os professores e o maestro tiveram que ter a sensibilidade de entender como trabalhar com aquele grupo tão diverso musical e culturalmente. A solução foi colocar lado a lado alunos mais experientes e iniciantes, e misturar brasileiros, peruanos e colombianos. “Faz diferença você ter um colombiano ao seu lado na hora de tocar música colombiana, ter um peruano na música peruana”, explica Appezzato. Assim, a partir das aparentes dificuldades, é que a Orquestra foi tomando forma, e cada aluno se tornou também um professor.
Fora dos ensaios, Marcos Gonzaga notou que os alunos ainda estavam tímidos, e que a convivência entre brasileiros, peruanos e colombianos encontrava algumas barreiras naturais. Então ele elaborou algumas atividades para que a garotada “saísse da área de tensão”. Aí entrou em campo o trabalho pedagógico-social do Guri, que busca, por meio de brincadeiras e conversas, demonstrar para os jovens a importância da construção coletiva, do trabalho colaborativo. As atividades realizadas fora dos horários de ensaios ajudaram a criar uma maior coesão nos alunos, a aprofundar o senso de responsabilidade e cooperação entre os membros da Orquestra. – além de aproximar os jovens em seu tempo livre.
Nos Diários de Bordo, a evolução é visível. Se no dia 20 eles diziam que os ensaios estavam difíceis e que não conseguiam entender espanhol, no dia 25 já lamentavam ter de deixar os novos amigos: “Ensaiamos muito, pois era o último dia de ensaio antes do concerto, então precisávamos fazer os ajustes finais nas músicas e deixá-las perfeitas para o concerto. Todos estavam extremamente ansiosos para a apresentação. Nesse dia eu aproveitei para ficar muito com os colombianos, pois seria uma de nossas últimas noites juntos =(“, escreveu Ana Carolina Morais Campos.
El Gran Concierto
“Hola, pessoal! Hoy es el día del Gran Concierto em Teatro Metropolitano de Medellín!”, escreveu Danilo do Santos em seu Diário de Bordo. Foi com um misto de bom humor e concentração – e cheios de confiança – que os alunos encararam a grande noite.
“Quando o concerto chegou eu estava muito calmo, parecia um monge budista”, diz Kauan Pereira Nobre. A apresentação foi um sucesso, e nem no meio da empolgação do encerramento da residência artística fez com que os alunos esquecessem o propósito de tudo aquilo. “Demos nosso melhor, para representar todos os alunos do Guri Santa Marcelina, e mostramos gratidão a todo o pessoal envolvido, aos maestros, aos professores, a todo mundo que nos mostrou como alcançar esse resultado. Foi algo maravilhoso e simplesmente incrível”, escreveu Vinícius de Paula Bomfim. “O concerto foi algo espetacular e inesquecível pra mim! Uma experiência extraordinária e perfeita! Ao fim do concerto, todos nós choramos muito, pois tudo aquilo havia chegado ao fim, eu chorei muito pois tinha certeza de que iria sentir falta de todos ali ♥”, escreveu Ana Carolina.
O concerto foi uma grande celebração e contou com presenças ilustres. Ministros e até o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, compareceram para prestigiar a fundação da Orquestra. A festa marcou também os 50 anos da ISA – empresa multinacional de distribuição de energia baseada na Colômbia. Bernardo Vargas, presidente da ISA, foi o maior entusiasta da Orquestra Sinfônica Juvenil da América Latina, que, segundo ele, materializa o próprio slogan da empresa: Conexões que Inspiram. “Queremos mediante este concerto ressaltar a potência e a importância das nossas crianças e jovens nas artes, e realçar que neste continente trabalhamos juntos”, disse Vargas.
Parceira de longa data do Guri Santa Marcelina, a ISA atua no Brasil com o nome de ISA CTEEP, e é uma das principais concessionárias privadas de transmissão de energia elétrica do país, transmitindo 24% da energia produzida no Brasil, e 60% da energia consumida na região Sudeste. A empresa brasileira também esteve presente no concerto de Medelim, com seu presidente Reynaldo Passanezi Filho.
A ação da ISA CTEEP com o Guri foi determinante para o sucesso de todo o plano artístico-pedagógico da instituição, especialmente na ponta que chega ao público, que são os Grupos Infantis e Juvenis. A empresa foi a primeira patrocinadora dos Grupos, ainda em 2010, e permaneceu até 2011. Em 2015, a ISA CTEEP fez, junto com o BNDES, uma doação de instrumentos para os alunos do Guri. A enorme compra contemplou diversos pontos do espiral de desenvolvimento musical dos alunos, e ajudou a equipar os Grupos Infantis e Juvenis, e os polos de ensino na capital e Grande São Paulo. Os novos instrumentos aumentaram a oferta de cursos e possibilitaram um maior desenvolvimento para os alunos.
Próximos Passos
Após o grande sucesso de sua primeira apresentação, a Orquestra Juvenil da América Latina planeja seus próximos passos. O grupo agora se empenha em conseguir recursos para fazer uma nova residência artística, aos moldes da realizada na Colômbia. Dessa vez o provável destino é o Brasil, e para isso o Guri Santa Marcelina estreita ainda mais seus laços com a Fundación Batuta e a Sinfonia por el Perú, e busca convidar outras instituições de ensino musical infanto-juvenil e inclusão social, para tornar a Orquestra Juvenil da América Latina cada vez mais latino-americana.
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