Com uma série de concertos gratuitos, a programação de 2022 do Guri Capital e Grande São Paulo traz repertório que vai da música do século XIX aos dias atuais. Os concertos são realizados pelos Grupos Infantis e Juvenis do Guri, programa de educação musical e inclusão sociocultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, gerido pela Santa Marcelina Cultura.
Ricardo Appezzato, gestor artístico da Santa Marcelina Cultura, aponta que as apresentações fazem menção a dois momentos importantes: há 200 anos, a Independência Brasileira acontecia no país e há 100 anos, um grupo de artistas promoveram a Semana da Arte Moderna de 1922, que impactou a produção cultural e artística no país. Por fim, Ricardo ressalta também a importância de se fazer música no ano presente, momento em que as artes retornam aos palcos após o processo de isolamento causado pela pandemia:
“Se analisarmos, sempre dizem que as rupturas do século acontecem depois de um grande momento histórico e as pandemias são um grande momento histórico. Estamos no momento em que as artes começam a caminhar mais”.
A programação de apresentações trará compositores, regentes e repertórios diversos. De acordo com o gestor, os grupos do GURI não somente irão replicar repertórios, mas também irão questionar de que forma esse repertório se relaciona com o futuro que estamos construindo. “Pela primeira vez os grupos do GURI têm um maior número de regentes mulheres, que também é uma questão muito importante da contemporaneidade”.
Os grupos se apresentam, entre maio e dezembro de 2022, em locais como o MASP, Biblioteca Mário de Andrade, Theatro São Pedro e a Fábrica de Cultura Parque Belém.
Confira a conversa completa com Ricardo Appezzato:
Como é fazer música no momento atual?
Daqui a algum tempo estaremos falando sobre a música pós pandêmica. Será que é a mesma música que fazíamos? Definitivamente não é a mesma música. A música soa diferente e o fazer musical carrega diferenças. A música soa diferente porque as pessoas estão diferentes. Estar em uma orquestra e não poder estar próximo, por exemplo, gera um outro contexto.
Como a escolha do repertório impacta no aprendizado das alunas e dos alunos?
No século XXI, entendemos que o fazer musical, orquestral e coral precisa de uma visão que se renova. Hoje, não visamos olhar para o passado junto com inquietações, conexões e indagações com o presente. Acho que o repertório se relaciona, cada vez mais, com os alunos. O repertório traz um frescor, mas a gente pode se relacionar diferente com os clássicos. O repertório traz a ideia de construção de público, mas não simplificada. Uma construção de público genuína.
O que eu mais amo no GURI é chegar num teatro e ver uma família que pisa no teatro pela primeira vez. Assim, o espaço, o repertório e o mundo da música passam a fazer parte da realidade dos alunos e de todo o seu entorno. Também acabamos discutindo outros assuntos que não são só os instrumentos.
Como será a experiência das alunas e dos alunos que participam dos Grupos Infantis e Juvenis em 2022?
No GURI, os participantes acabam discutindo outros assuntos que perpassam a música. Não é só sobre aprender instrumentos musicais. Neste ano teremos parcerias internacionais: os alunos entrarão em contato com músicos de fora do Brasil e poderão trabalhar repertórios de outras partes do mundo. Isso pode diminuir as barreiras, aumentar as possibilidades, romper fronteiras e tornar o mundo um lugar possível para os alunos.
Como foi o processo de escolha do repertório e das apresentações?
Nosso repertório possui muitos pontos altos. Escolhemos trazer o repertório brasileiro não datado do século XIX e XX. Vamos trabalhar de Villa-Lobos aos primórdios do Choro. O resgate da música popular brasileira será trabalhado pela Big Band Infanto-Juvenil e todos os grupos irão apresentar os múltiplos caminhos que a música tomou no século XX.
Um ponto interessante: nesse ano teremos a Orquestra na Rua, que é um processo de poder se apegar a uma outra viagem e se apropriar de territórios que, em tese, não são muito musicais. O GURI proporciona essa vivência múltipla, sem muito limite, no bom sentido. Sem muitas travas.
Por fim, o que o GURI cria para ser lembrado daqui a 100 anos?
Vamos lembrar que aqui fazemos música com brilho nos olhos. O ensino musical pode ser cruel e reprimido. Aqui, eu sinto que o GURI faz com que alunos, alunas, professores, professoras e regentes retomem o brilho nos olhos no momento de fazer música.
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